PREMIAÇÃO

 

A tese de doutorado intitulada “Short-run open economy macroeconomics and external constraints: going beyond the trilemma framework”, de Nathalie Tellez Marins, aborda as limitações do modelo do trilema em economias abertas e propõe uma nova perspectiva que integra elementos pós-keynesianos e estruturalistas. Sob orientação de Daniela Magalhães Prates e co-orientação de Rosângela Ballini, ambas do Instituto de Economia da Unicamp, o trabalho questiona as bases teóricas e empíricas do trilema, frequentemente utilizado como referência em discussões de políticas econômicas em contextos de economias abertas.

A estrutura do trilema propõe que é impossível para uma economia alcançar simultaneamente três objetivos: estabilidade cambial, mobilidade de capital e autonomia na política monetária. A tese critica essa estrutura, demonstrando como a ênfase em regimes cambiais e na mobilidade de capitais acaba abstraindo outras variáveis importantes, como a restrição do balanço de pagamentos e a assimetria produtiva entre economias centrais e periféricas. Esse enfoque, argumenta a autora, reduz o espaço de política e não capta adequadamente os desafios enfrentados por países em desenvolvimento.

No primeiro capítulo, a autora resgata o debate teórico iniciado nos anos 1950, com a abordagem de James Meade, que desenvolveu um modelo flexível para discutir como os países poderiam alcançar pleno emprego e equilíbrio no balanço de pagamentos. Essa discussão inspirou o modelo Mundell-Fleming nos anos 1960, que consolidou o trilema como a principal ferramenta analítica para economias abertas. Entretanto, Nathalie Tellez Marins observa que o modelo Mundell-Fleming simplificou a análise ao enfatizar a eficácia relativa das políticas fiscais e monetárias em regimes cambiais, sem levar em conta as restrições estruturais do balanço de pagamentos, especialmente em economias periféricas, onde a flexibilidade cambial nem sempre traz os benefícios esperados .

Nos capítulos seguintes, a autora critica a utilização moderna do trilema, como no caso do “quadrilemma” e do “dilemma”, variações da abordagem original que introduzem novos elementos, como reservas cambiais e intervenções estrangeiras. Essas extensões, embora reconheçam a importância de fluxos financeiros, ainda mantêm a premissa de que a flexibilidade cambial confere maior autonomia para políticas monetárias. Nathalie demonstra como essas interpretações ignoram a influência assimétrica do ciclo financeiro global e a hierarquia monetária internacional, conceitos que ela introduz para enriquecer a análise. A autora argumenta que a autonomia da política monetária não deve ser analisada apenas em termos de regime cambial, mas deve considerar como variáveis como taxa de juros, reservas e condições externas afetam a capacidade de resposta das políticas domésticas .

No capítulo final, a tese propõe um modelo pós-keynesiano alternativo para analisar o espaço de política em economias abertas, considerando os efeitos de choques externos. Esse modelo integra a demanda efetiva, inflação por conflito distributivo e a endogeneidade da moeda para discutir como as restrições externas, como a taxa de juros ajustada ao risco e a limitação do crédito internacional, afetam as opções de política econômica no curto prazo. A autora conclui que a política monetária em economias emergentes não pode ser dissociada da política cambial e da regulação financeira, sendo necessário repensar o conceito de autonomia em um contexto de interdependência entre política econômica e condições externas .

A tese de Nathalie Tellez Marins recebeu menção honrosa no Prêmio de Teses da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), destacando-se pela contribuição ao debate acadêmico sobre a condução de políticas econômicas em economias emergentes e a crítica fundamentada às limitações dos modelos tradicionais de análise. Para acessar a tese completa, visite o repositório da Unicamp aqui.