Autor: Fernando Nogueira da Costa
Na República, Platão traça o modelo da cidade ideal. Prevê a supressão da propriedade privada, a fim de desaparecer qualquer conflito entre o interesse privado e o Estado, e a supressão da família, a fim de os afetos não diminuírem a devoção para o bem público.
Não é este comunismo primitivo o defendido por O Banqueiro Comunista!
Naquela concepção platônica, o Estado só proveria a criação e a educação das camadas sociais superiores, entre os quais seus dirigentes: a casta dos guerreiros e a casta dos sábios-sacerdotes. Ao invés, os párias seriam destinados à agricultura, aos serviços manuais e ao comércio, mantendo sua organização econômica e familiar tradicional.
Caberia aos párias somente a obrigação de fornecer às castas os meios de subsistência. Seriam colocados perante a estas castas de natureza ocupacional em relação de rigorosa dependência.
Nos primórdios da civilização cristã, quando os cristãos compartilhavam “banquetes” com os pobres, além de enterrá-los sem deixar seus cadáveres ao léu, floresceram os primeiros ideais comunistas dirigidos a todos os homens. O cristianismo primitivo fazia, em sua prática, uma crítica social à realidade vigente no Império romano.
Os colégios ou as confrarias cristãs ofereciam a sepultura e o banquete. Os cristãos se cotizavam para garantir uma sepultura, erguer um santuário doméstico aos protetores da casa, providenciar banquetes para todos.
Com os convivas sentados em banquetas – daí a etimologia de “banquete” –, eram simples e fraternos, sendo realizados no dia do Senhor. Compartir era separar a refeição em partes entre indivíduos “deixados de valer” ou “inválidos”.
A propagação do cristianismo, no decorrer do século II, se relaciona com essa luta pela cidadania.
O ideal de vida em comum, vivida na pobreza e na caridade, e do consequente desapego dos bens terrenos, operará potentemente no cristianismo dos primeiros séculos. A natureza colocou tudo em comum para uso de todos, ou seja, ela criou o Direito Comum. A usurpação criou o Direito Privado.
O Banqueiro Comunista descrê da caridade – dependência de auxílio de outro – como meio de emergência social. São apenas apoios solidários e altruístas. E passageiros...
No entanto, nos séculos XII-XIII, os cristãos exaltavam a pobreza e a castidade. Proclamavam a necessidade de pôr tudo em comum e de viver do próprio trabalho. Repudiaram a propriedade privada. Embora fossem comunitários, cometeram erro histórico no sentido de enriquecimento social, sob o ponto de vista de O Banqueiro Comunista.
Por esse atraso cultural e econômico, as primeiras grandes utopias comunistas, formuladas por eminentes pensadores, só apareceram nos séculos XVI e XVII. Nessa época, assistia-se à progressiva decadência dos modos de produção e de vida préburgueses no campo.
A primeira grande Utopia dos tempos modernos, cujo nome foi emprestado a todas as sucessivas, foi o título da obra do inglês Thomas More (1478-1535). Este livro clássico foi lido por gerações sucessivas.
Na Inglaterra, na época da revolução industrial, havia uma profunda transformação econômico-social: comunidades rurais inteiras eram expulsas dos campos, transformados em pastagens para as ovelhas, a fim de fornecer lã para as manufaturas têxteis. Parte destes camponeses expulsos dos campos passaram a trabalhar como assalariados, em condições terríveis nas novas manufaturas.
Uma grande parte excluída constituía bandos de vagabundos famintos, entregues à rapina e às pilhagens. Frente a essa gravíssima calamidade social, as autoridades sociais foram inflexíveis na repressão violenta.