Ricardo Carneiro | Carta Capital
As referências a uma espécie de lado brilhante do mercado de trabalho brasileiro têm sido recorrentes. O Banco Central do Brasil, nas suas atas do Copom e nas falas de seus diretores, não tem poupado alusões ao que denominam de dinamismo do nosso mercado de trabalho, utilizando esse diagnóstico, com bastante frequência, para caracterizar a baixa ociosidade na economia brasileira.
Que o BC se utilize dessa racionalização é compreensível, afinal necessita de argumentos para justificar as taxas de juros esdrúxulas que pratica. O que é menos justificável é que economistas ditos progressistas, sem uma análise mais aprofundada, façam coro a essas simplificações que visam, sobretudo, sancionar a opção por políticas ultraortodoxas. Em desacordo com essas visões, a análise dos dados mostra uma situação bastante preocupante, com evidências de deterioração estrutural e inflexão do desempenho conjuntural do emprego e estagnação da renda da nossa população.
O aspecto mais evidente destacado no debate recente é o da queda do desemprego. E de fato, desde o pico de 15% da pandemia, ou do patamar médio de 2016/2019, de 12,5%, há uma redução substantiva dessa taxa para os níveis atuais, em torno de 8%. Antes mesmo de discutir as razões da queda do desemprego, cabe anotar que esta é menos intensa do que aparenta, ou pelo menos, não traduz exclusivamente um dinamismo particular do mercado de trabalho, mas movimentos pouco analisados e compreendidos de redução da taxa de participação da população em idade ativa na força de trabalho. Essa taxa de participação é, atualmente, cerca de dois pontos percentuais menor do que no período 2016/2019. Vale dizer, a taxa de desemprego se reduz não só por conta do aumento da ocupação, mas também por uma redução da força de trabalho.
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