Norberto Montani Martins, Ernani Torres e Luiz Macahyba 

O arcabouço teórico desenvolvido por Hyman Minsky fornece um conjunto de ferramentas analíticas extremamente poderosas para entender os aspectos financeiros da crise da Covid-19 no Brasil. Tomando como ponto de partida a hipótese de instabilidade financeira e o conceito de restrição de sobrevivência, analisamos a crise atual e as respostas apresentadas pelo governo brasileiro a partir de três processos distintos, porém umbilicalmente conectados. O primeiro é caracterizado pela contração da liquidez dos mercados financeiros e seus efeitos sobre os preços e a negociabilidade dos ativos. O segundo processo, que persistirá enquanto a pandemia durar, evidenciase pela interrupção das entradas de caixas das empresas e das famílias e nos consequentes desequilíbrios resultantes da manutenção de obrigações firmes (dívidas) ou despesas essenciais. Por fim, um terceiro processo está associado ao agravamento da situação patrimonial das unidades econômicas, que pode provocar a falência dos negócios ao longo de um período que pode transcender a duração da emergência sanitária. A partir desse arcabouço, analisamos como a crise se desenrolou no Brasil e as medidas adotadas pelo governo para combatê-la entre março e julho de 2020. Ao final conclui-se que as medidas de expansão de liquidez anunciadas pelo Banco Central do Brasil conseguiram evitar que a contração da liquidez se transformasse em uma situação de instabilidade financeira. Contudo, o apoio às empresas foi tardio e só não fracassou totalmente pela ação dos bancos públicos no manejo das linhas e programas especiais que foram criados a partir de abril.

Link: http://dx.doi.org/10.13140/RG.2.2.32215.50080