Ricardo Carneiro | Le Monde Diplomatique
Uma questão de grande importância é aquela concernente à razão pela qual a inflação se acelera e se dissemina com mais intensidade no Brasil do que em outros países, particularmente nos emergentes. Há pelo menos três fatores centrais a considerar na resposta a essa questão, crucial por seu papel na economia e no dia a dia da população. O primeiro, menos controverso, se refere ao peso das commodities na estrutura produtiva, ao qual se deve agregar o elevado coeficiente importado em segmentos industriais. O segundo diz respeito à recente desvalorização do real, a qual também situa o Brasil como um dos líderes entre seus pares. Por fim, o papel das expectativas e da inércia na disseminação da inflação ou na transmissão dos choques de oferta e como o Banco Central lida com elas.
O primeiro fato a considerar é que o aumento de preços na pandemia tem sido absolutamente generalizado, atingindo em maior ou menor escala todos os países. Os dados dos gráficos abaixo destacando os principais países desenvolvidos mostram, após a queda brusca do primeiro semestre de 2020, uma aceleração dos preços após agosto de 2020, com a exceção do Japão. Sem dúvida, o fator subjacente aqui é a parada súbita da atividade econômica e a rápida retomada exercendo uma pressão significativa na oferta de commodities e nas principais cadeias de produção. Ou seja, o descompasso entre a velocidade de recuperação da demanda e da oferta.
Fenômeno semelhante, mas com intensidade ampliada, pode ser visto nos países emergentes. E aqui, cabe uma questão geral: por que em média os preços dos países emergentes se elevaram mais do que os dos desenvolvidos? A razão principal foi a desvalorização das suas moedas ante aquelas dos países centrais, em particular o dólar, o que torna, por exemplo, o aumento dos preços das commodities agro minerais e de partes e peças (insumos importados da manufatura), fixadas em dólar, um múltiplo daqueles dos países centrais. O Brasil torna-se, nesse contexto, um caso paradigmático, pois é ao mesmo tempo grande produtor de commodities e importador de componentes e insumos para uma indústria com coeficiente importado elevado. Isso explica, em parte, a sua presença entre os grandes emergentes com taxa de inflação mais elevada.
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