Luiz Gonzaga Belluzzo | Valor
Ao observar as relações que constituem “a economia como um todo”, os economistas Wynne Godley e Marc Lavoie partem da matriz keynesiana para construir um modelo dinâmico no qual os “fluxos de gasto e renda” promovem mudanças na composição dos estoques de riqueza.
Consideremos que em um determinado momento um conjunto de empresas já exerceu a demanda de financiamento e realiza gastos de investimento. Este conjunto de empresas está a realizar um “déficit” financiado pelos bancos. Ao mesmo tempo, um outro conjunto está colhendo os resultados de suas decisões anteriores de investimento, isto é, realizam um superávit, um “surplus”. É a obtenção deste superávit corrente que permite simultaneamente: a) servir às dívidas contraídas para o financiamento dos ativos formados no passado, e b) acumular fundos líquidos dos quais se nutre o sistema bancário enquanto gestor do estoque de riqueza financeira - dívidas e direitos de propriedade.
Desnecessário dizer que a acumulação de recursos líquidos favorece a situação patrimonial das empresas e as torna mais atraentes para a concessão de novos créditos, o que confere um caráter procíclico ao endividamento. Em uma conjuntura favorável, o processo de aumento do investimento e do endividamento gera um fluxo de renda que permite servir à dívida passada.
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