Na Carta Capital

A operação fabril da Ford em São Bernardo do Campo está com os dias contados. Por abrir mão do segmento de caminhões, a empresa decidiu fechar a fábrica adquirida em 1967. O efeito em cascata deve acabar com 24 mil empregos.

Primeira fábrica brasileira da empresa, o lugar é o berço das lutas operárias do ABC Paulista. Lá aconteceram algumas das greves mais importantes dos anos 70 e 80. Para o professor José Dari Krein, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit/Unicamp), a queda da Ford é um símbolo do ocaso desse movimento.

 “Não dá para pensar em redemocratização, em nenhum lugar do mundo, sem a participação dos movimentos organizados de trabalhadores. Empresas americanas, como a Ford, nunca tiveram tradição de conselhos de trabalhadores. No Brasil, o movimento sindical construiu essa tradição.”

São Bernardo já foi considerada a Detroit brasileira: sediou a Kharmann-Ghia, Scania, e Mercedez-Benz (essas últimas ainda funcionando). Enquanto a cidade americana ruiu após a crise de 2008, São Bernardo caminhou para uma economia de serviços. Mas a indústria de metal-mecânica ainda concentra boa parte dos empregos: 30%, segundo dados da Prefeitura.

A decisão da Ford pegou de surpresa prefeito, sindicato e trabalhadores. Líderes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC vão aos Estados Unidos tentar reverter o fechamento. Doria e o prefeito Orlando Morando, também tucano, buscam vender a unidade fabril deixada para trás.

A sede de São Bernardo chegou a ter 10 mil funcionários nos anos 80. Agora, tem pouco mais de 4 mil e é considerada ultrapassada – é mais barato construir uma fábrica nova do que modernizar uma planta antiga. O Dieese calcula um prejuízo total, incluindo na conta todos os componentes possíveis, de 3 bilhões com a saída.

Krein aponta que, com o temor do desemprego, o poder de negociação dos sindicalistas é menor. “O setor automotivo é cada vez mais guiado pela satisfação de acionistas. Desde a crise de 2015, os sindicatos vêm fazendo concessões, admitindo congelamento de salários. Agora, a fábrica saiu sem fazer nenhum tipo de acordo.”

A produção ficará concentrada em Camaçari, na Bahia, onde são produzidos os carros mais vendidos da empresa. Há ainda uma terceira planta, em Taubaté (SP), que fabrica autopeças – que iam principalmente para a fábrica do ABC.

Contra o fechamento de mais fábricas e vagas de emprego, Krein defende o fim da concorrência predatória, muitas vezes até entre unidades de uma mesma montadora. “A solução é manter um contrato nacional único. Os sindicatos até tentaram, mas não conseguiram estabelecer esse acordo.”

Leia a notícia completa aqui.