A intervenção militar no Rio de Janeiro, articulada pelo Governo Federal, impede que ocorra qualquer alteração na Constituição. Logo, como a proposta de reforma da Previdência requer emendas à Constituição, o governo Temer teve de levar essa matéria para a gaveta, não a colocando em votação no Congresso. Não é preciso ser nenhum expert em análise política para supor que essa intervenção não está somente relacionada a questões de segurança pública, pois é sabido que o Planalto não tem votos suficientes para aprovar a reforma. Entretanto, ainda assim, segundo o professor Eduardo Fagnani, o engavetamento da reforma pode ser considerado uma vitória da sociedade que, segundo ele, percebeu que os argumentos do governo não se justificam. “As pessoas compreenderam a falácia dessa estratégia e com isso o governo não conseguiu ter os votos que precisava”, dispara.

Entretanto, Fagnani alerta: “essa proposta pode voltar a qualquer momento, sim, e pode voltar após as eleições”. Isso porque, acredita ele, “a reforma da Previdência é uma peça importante nessa estratégia de implantar um modelo liberal radical no Brasil”. “O que está por trás é a implantação de um projeto ultraliberal no Brasil. Esse projeto vem sendo tentado há mais de 40 anos, foi parcialmente implantado nos anos 1990 e agora se quer concluir o projeto aproveitando a oportunidade do golpe parlamentar”, acrescenta.

Na entrevista a seguir, concedida por telefone à IHU On-Line, o professor explica como a sociedade civil organizada apreendeu os dados técnicos que contrapõem todos os argumentos do governo e os fez ecoar no Congresso Nacional. Com medo das reações, a adesão ao projeto do Governo pelos parlamentares não ocorre e ainda há o risco de derrota no Legislativo. Fagnani defende a permanência das mobilizações, pois acredita que o quadro pode mudar depois do pleito de outubro. “Haverá uma situação na qual quem perdeu as eleições para o parlamento não tem mais nada a perder e quem ganhou tem mais quatro anos pela frente e pode, na verdade, atender aos interesses do capital”, analisa.

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