MÍDIA
Pedro Rossi | Le Monde Diplomatique Brasil
A pandemia atingiu o Brasil em meio à aplicação de uma agenda de reformas centrada na austeridade e na redução do papel do Estado na economia. A realidade concreta impôs uma mudança no rumo da política econômica e transformou o debate fiscal no Brasil.
Em poucas semanas, o gasto público passou do grande problema do Brasil para a principal solução. Na retórica de alguns, o Estado que estava quebrado se reconfigurou e o dinheiro, que tinha acabado, reapareceu. Mitos sobre a questão fiscal caíram por terra e dogmas foram deixados de lado diante de uma realidade impositiva. Assim, a crise postergou o debate sobre as reformas e criou um “quase consenso” entre os economistas de que é preciso gastar com saúde, assistência social e apoio às empresas e trabalhadores.
No entanto, a sinalização do governo e dos economistas de mercado é uma retomada rápida e ainda mais radical da agenda de austeridade fiscal. No pós-pandemia, o conservadorismo econômico concentrará todos os esforços no resgate de uma suposta normalidade, apoiado no argumento de que a dívida pública cresceu e com uma retórica de que é necessário pagar a conta da crise.
De outro lado, será preciso apontar para a hipocrisia e a demagogia de um discurso incoerente, anacrônico e fragilizado pela evidente falta de aderência à realidade, mostrar que não existe conta a ser paga pelo coronavírus e que o caminho alternativo confere ao gasto público um papel fundamental para a retomada do crescimento com redução das desigualdades sociais.
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