Dimalice Nunes e Giovanna Costanti | Na Carta Capital

Mais um trimestre se passou e novamente o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) volta a decepcionar, com crescimento de 0,4% no primeiro trimestre de 2018. Embora em linha com as expectativas - o mercado esperava alta entre 0,1% e 0,5% - o número indica que ainda falta fôlego para o País de fato se recuperar da recessão de 2015 e 2016.

Para saber o que leva o Brasil a ter tanta dificuldade em retomar - e sustentar - seu crescimento econômico CartaCapital ouviu cinco economistas, com uma só pergunta: por que o Brasil não consegue crescer?

André Biancarelli - professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon-IE/Unicamp)

Em primeiro lugar, porque a retomada, como aquela famosa personagem, “foi sem nunca ter sido”. Muito tímida após a maior contração já registrada, provocada por impulsos pontuais (a liberação do FGTS e uma supersafra agrícola) e sem capacidade de retomar o investimento, a aceleração do PIB em 2017 animou previsões exageradamente otimistas, agora frustradas. Mas o fato é que já ao longo dos trimestres anteriores se verificava uma desaceleração.

Em segundo, razões de ordem conjuntural, ligadas a fatores estruturais. As elevadas taxas de desemprego e informalidade (não atenuadas, bem ao contrário, pela vigência das novas regras trabalhistas) desestimulam o consumo, o que debilita também o crédito já prejudicado pelo elevadíssimo custo.

Ao cenário de destruição de importantes setores produtivos pelo modo como se combateu a corrupção desde 2014 se somou a fragilidade financeira de várias empresas e o alto grau de capacidade ociosa. Ao longo do primeiro trimestre também o cenário internacional foi se deteriorando, e a enorme instabilidade institucional que se aprofunda desde o golpe de 2016 ampliam a incerteza sobre o futuro. Neste cenário, imaginar uma retomada do investimento é pura ilusão.

Mas o terceiro e mais abrangente motivo é a falta de horizonte para a economia brasileira, decorrente das opções de política. A estratégia adotada pelo governo Temer, desde seu início, não tem na retomada do crescimento uma prioridade. Sua missão era a aprovação rápida de um agressivo conjunto de reformas liberalizantes, que alterariam a forma de funcionamento do capitalismo no Brasil.

Tais reformas, quando têm impacto sobre o nível de atividade, é negativo - vide a reforma trabalhista, o teto de gastos, o encolhimento dos bancos públicos e a guinada na gestão da Petrobras. No cenário atual, argumentar que estas reformas seriam a base para a elevação da “confiança” e, por esta via, do crescimento, soa repetitivo e pouco crível.

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