MÍDIA

João Vitor Santos e Patricia Fachin | IHU Unissinos

“A prioridade da economia brasileira hoje é o enfrentamento da pandemia de Covid-19. Vacina, isolamento e leitos hospitalares. Sem isso, a economia não irá se recuperar e poderemos enfrentar uma nova recessão no primeiro semestre de 2021”, adverte o economista Guilherme Mello em entrevista por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

Na avaliação dele, o agravamento da crise sanitária exige, de imediato, “a recriação do Auxílio Emergencial no valor de R$ 600, já que estamos falando de uma queda generalizada das rendas do trabalho devido ao isolamento e ao lockdown. Sem renda, não há condições de se isolar e conter o avanço da pandemia. Também será fundamental dar crédito e postergação de pagamentos para os micro e pequenos empresários, transferir recursos para Estados e municípios e recriar um programa de garantias dos empregos formais. Em suma, será fundamental retomar as medidas de suporte à economia abandonadas de forma criminosa pelo governo na virada do ano, mesmo sabendo que o pior da pandemia estava por vir”.

Crítico à Proposta de Emenda Constitucional - PEC 186, que propõe novas regras fiscais de limitação do gasto púbico, Mello sugere a criação de “nova estratégia de desenvolvimento que seja capaz de atender as demandas sociais ao mesmo tempo em que se desenvolve a estrutura produtiva”. Essa estratégia, explica, parte “das enormes carências sociais e ambientais que possuímos para organizar um bloco de investimentos (públicos e privados) capaz de garantir a cidadania das pessoas e organizar cadeias produtivas inovativas e capazes de gerar emprego e renda”. E acrescenta: “Esse é o desafio do século XXI, que a maior parte dos economistas brasileiros se recusa a enfrentar, ainda presos que estão aos paradigmas de 20 ou 30 anos atrás”.

Ele reitera ainda que o país não necessita de um novo pacto social para levar a estratégia de desenvolvimento adiante. O desafio, ao contrário, é evitar o desmonte da Constituição Federal de 88. “O pacto social que possuímos hoje é a Constituição Federal de 1988, a qual considero totalmente adequada para enfrentar os desafios que temos pela frente. O problema maior é o trabalho constante para desmontá-la e substituir o pacto de solidariedade social nela inscrito por uma visão individualista e privatista de sociedade”. Na atual gestão presidencial, reitera, reafirmar a Constituição de 88 é ainda mais fundamental, considerando a mistura entre o “neoliberalismo arcaico de Guedes com o corporativismo patrimonialista de Bolsonaro. Essa mistura tem como objetivo destruir o Estado em diversas dimensões, ao mesmo tempo que garante os pedaços que sobraram para seus aliados pessoais”.

Leia a entrevista completa aqui.