MÍDIA

Marcelo Roubicek | Do Nexo

Pelo mundo, o novo coronavírus tem infectado centenas de milhares de pessoas e derrubado economias. Os mercados financeiros apresentam quedas fortes nas diferentes bolsas de valores. Na semana útil de 9 a 13 de março, por exemplo, a bolsa de São Paulo acumulou queda de pouco mais de 15% em cinco dias. Foi o pior tombo semanal desde outubro de 2008, quando o mercado enfrentava os primeiros momentos da crise financeira que marcou aquele ano. Em outros países, como EUA e nações europeias, os registros também são de quedas históricas.

O Nexo conversou com dois economistas para entender o cenário brasileiro de crise e os efeitos esperados diante da pandemia do novo coronavírus.

- Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper

- André Biancarelli, professor e diretor do Instituto de Economia da Unicamp

André Biancarelli - Cada crise tem um jeito. Esta é muito grave, mas tem ingredientes muito novos. Não é exatamente uma crise que parte do sistema financeiro. Ela vem da economia real, provavelmente por uma contração muito abrupta da demanda. Acho que daqui para algumas semanas as grandes cidades brasileiras terão de enfrentar uma situação de confinamento, seja voluntário ou involuntário. Isso significa um colapso na demanda. E muitos setores – grandes, pequenos e médios – não resistem muito tempo. Bares, restaurantes, hotéis, companhias aéreas: é um choque tão grande na demanda, que haverá problemas de caixa, de liquidez das empresas. Do ponto de vista de tributação e de crédito emergencial, medidas nessa direção são necessárias.

Há também a antecipação de uma parte de 13° de aposentados. A direção de tentar injetar um pouco mais de demanda agregada na economia é válida. Mas eu acho que o foco, pelo menos de injeção de demanda, não necessariamente deveria ser os aposentados. Eles são, evidentemente, do ponto de vista de saúde, a população de risco. Mas não necessariamente eles terão os maiores impactos econômicos.

Nada contra ter foco nos aposentados e nos idosos, mas acho que o foco aqui deveria ser mais sanitário do que de estímulos à demanda. Acho que zerar a fila do Bolsa Família, [dar] algum tipo de crédito extraordinário, [fazer] medidas de emergência com efeito no curto prazo devem ter um alcance muito maior do que só nos aposentados. [É necessária] alguma sinalização na direção da economia informal, dos fornecedores, ambulantes, toda uma franja gigantesca da economia brasileira que não tem garantia de renda mensal e vai ver seus rendimentos e sua situação econômica mergulhar de maneira muito profunda e dramática nas próximas semanas. Quanto a isso, ainda não escutei nada, nenhum tipo de preocupação com esse grupo. E isso tem um impacto muito grande na demanda agregada da economia. Do ponto de vista social, as transferências com maior progressividade e maior impacto na demanda agregada deveriam ter prioridade.

Em geral, eu veria como foco isto: população de baixa renda, com prioridade para o setor informal, pequenas e médias empresas que provavelmente ficarão com problemas de liquidez, e aí setores mais afetados, como turismo e serviços em geral, por conta do “confinamento” da população. Isso sem falar na necessidade totalmente dramática de ampliação de recursos para a saúde.

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