Tiago Oliveira, Marcelo Weishaupt Proni e José Ribeiro Guimarães | Le Monde Diplomatique
O ritmo de crescimento da economia brasileira no pós-crise pandêmica tem surpreendido analistas e consultores. Desde o início do ano, por exemplo, o Relatório Focus, do Banco Central (que capta as expectativas do mercado financeiro sobre o comportamento futuro de alguns indicadores da economia brasileira), tem revisado reiteradamente suas previsões de crescimento econômico para o ano em curso: hoje, as projeções apontam para uma taxa de crescimento de aproximadamente 2,23%, contra 1,59% das realizadas no início do ano.
Como consequência do maior dinamismo econômico, a taxa de desocupação tem diminuído de forma consistente: após atingir um pico de 14,9%, no primeiro trimestre de 2021, iniciou-se um movimento de queda praticamente ininterrupto, com o segundo trimestre de 2024 apresentando uma taxa de desocupação de 6,9%, uma das mais baixas da série histórica da PNAD Contínua, do IBGE, iniciada em 2012.
Diante desse cenário, os principais veículos de comunicação do país têm reverberado as preocupações do mercado financeiro com o retorno de uma situação próxima do “pleno emprego” e seus inevitáveis impactos inflacionários. Diante desse diagnóstico questionável, defendem a manutenção de juros elevados e a austeridade da política fiscal. Em editorial de 19 de agosto, o jornal Folha de S.Paulo alertou: “Atividade em alta é boa notícia, mas há riscos”. O subtítulo diz: “Combinada à escalada do gasto público, expansão do emprego e da renda alimenta inflação; é preciso sinal de austeridade para evitar mais juros”. No dia anterior, o jornal O Globo trouxe a matéria intitulada: “Há vagas: desemprego baixo eleva salários, mas empresas de alguns setores não conseguem contratar”. O subtítulo deixava o alerta: “Taxa é a mais baixa da série histórica. Especialistas esperam que caia para perto de 6%, patamar considerado inferior ao pleno emprego, o que tende a elevar salários e pressionar a inflação”. Esse discurso não é novidade. Na véspera do 1º de Maio, a CNN Brasil já tinha repercutido as preocupações do presidente do Banco Central: “Campos Neto diz que emprego pleno no Brasil é ‘grande surpresa’ e alerta sobre pressão inflacionária”.
Historicamente, o discurso também não é novo. No ano de 2015, foi apregoado que o país estava numa situação de “pleno emprego”, em função da Taxa de Desocupação estimada para 2014 – 4,8%, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE – ter atingido a menor taxa média anual da série histórica estabelecida a partir do ano de 2003. Na época, praticamente não se mencionava que a cobertura da PME era de tão somente seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre), o correspondente a apenas 25% da População Economicamente Ativa (PEA) nacional. No mesmo ano, ao divulgar os resultados de 2014 já com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) – que substituiu a PME e tem cobertura nacional – o IBGE apontou para uma taxa de desocupação significativamente mais alta, de 7,0%.
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