MÍDIA

 

Ricardo Carneiro | Carta Capital

 

O título deste artigo soa como mais uma crítica superficial ao capitalismo. Todavia, seu significado está longe disto. Independentemente de preferências ideológicas, ele traduz aspectos muito relevantes desse sistema na sua configuração contemporânea, no que se refere à articulação entre Estado e Mercado. De uma perspectiva genérica, ele expressa o que a economista Daniela Gabor denominou de Wall Street Consensus, para se referir a seu modus operandi recente, enquanto sucedâneo do Washington Consensus.

A despeito da grande crise financeira de 2008, cujos efeitos são sentidos até hoje, e do monumental resgate do sistema financeiro posto em prática pelos bancos centrais, este novo consenso busca um ainda maior protagonismo desses mercados e interesses. Mas, vai além. Agora trata-se de definir uma proteção a esses mercados que não seja desencadeada a posteriori, como a assinalada ação dos bancos centrais. Ela teria que orientar toda a ação do Estado, visando mitigar de modo radical o risco inerente aos investimentos e à participação dos mercados financeiros, por meio de um conjunto de instrumentos e ações, caracterizadas como o de-risking dos primeiros.

De um ponto de vista concreto, as ações do de-risking objetivam viabilizar a participação do sistema financeiro e dos investidores de portfólio em uma gama ampliada de ativos, como aqueles da transição ecológica incluindo os países em desenvolvimento, obedecendo a lógica da financeirização, de ampliação recorrente dos ativos financeiros negociados em mercados organizados. Assim, a nova institucionalidade articula, de um lado, o sistema financeiro, incluindo os investidores institucionais que administram a riqueza financeira, por meio da Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ), e de outro, os investimentos em descarbonização, concentrados na matriz energética.

 

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