MÍDIA

 

Ricardo Carneiro | Carta Capital

 

Os bancos centrais assumiram, no período da financeirização, pós-1980, um papel crucial e quase exclusivo na gestão da política econômica, magnificando o impacto de suas ações na economia e sociedade. A desregulação radical dos mercados financeiros paradoxalmente exacerbou as ações dos bancos centrais, sobretudo na correção dos distúrbios decorrentes das operações desses mercados. Nesse contexto, é quase incompreensível que o debate sobre esta instituição seja, ainda hoje, marcado pelas propostas de ampliação da independência e não da sua democratização.

Atribui-se ao general alemão Clausewitz, um estrategista militar e cientista político, a frase “a guerra é um assunto sério demais para ser deixado aos generais”. A afirmação não questionava o conhecimento técnico dos militares, mas destacava as amplas implicações econômicas e sociais das guerras, bem como as escolhas que deveriam ser feitas, muitas vezes com informações imperfeitas. Ora, por sua natureza, a guerra era sobretudo um prolongamento da política e não deveria ser deixada a cargo dos burocratas, e seus interessados, no caso, os generais e os produtores de material bélico.

A analogia da guerra com a moeda, ou dos poderes de monopolizar a força, em suas várias dimensões, com o da emissão e gestão da moeda, ambos poderes basilares dos Estados soberanos, é irrecusável. A moeda e sua gestão, tanto quanto a da guerra, têm vastas implicações econômicas sociais e, ademais, envolvem escolhas. Logo, cabe perguntar: por que insular uma função tão essencial do Estado soberano por meio do banco central independente do governo? No sentido contrário, não seria mais correto democratizá-la?

 

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