Fernando Nogueira da Costa* | Resenha
Empatia: o autor necessita se colocar no lugar do potencial leitor. Ele comprará o livro, verá o sumário, lerá a primeira página e virará as demais até o fim?
O leitor sempre estará presente na mente do escritor depois de ele ter escrito a primeira versão do seu texto. Emergirá a dúvida existencial: – “Irá o leitor virar a página? Serei lido?”
A boa escrita é dirigida para o leitor desconhecido. Jamais escrever apenas para os colegas eruditos é a regra número 1. Ao escrever para um público amplo, surge a necessidade de ser claro e interessante. Esses são os critérios determinantes para um bom texto. Agradará também aos eruditos.
Agrava o drama de não ser bem aceito quando o autor é um economista. Em geral, não é benquisto. Ao fazer a lista de convidados para uma festa, nunca o anfitrião convida mais de dois economistas para não acabar com as conversas.
Então, como apelar para a leitura deste livro lançado pela Editora Contexto? Contando sua história. Todos nós gostamos de estórias.
Sou professor do IE-UNICAMP há 33 anos. Acompanhei a evolução de gerações de estudantes e das técnicas didáticas. Incorporei o PC (ou o iMac) ao meu trabalho de pesquisa e docência, inicialmente usando retroprojetor e slides – e adotando a emoção do “strip-tease”. Colocava um papel em cima da transparência, cortava-o na passagem de cada parágrafo, e ia os desvendando, parte por parte, fechava uma, abria outra. Essa inovação aconteceu em meados dos anos 90.
Depois, com um computador e Datashow em cada sala, a aula ficou mais fácil. Aprendi a lidar com o PowerPoint. Nunca fiquei lendo monotonamente a apresentação para alunos já alfabetizados. Fazia zooms e outras estripulias para despertar a atenção.
Para a geração millenium, nativa digital e tipicamente audiovisual, adotei novas ideias. Por exemplo, ensinar Economia através do cinema. Com DVDs e depois com possibilidade de baixar quase todos filmes na internet, tinha acesso a um estoque imenso de sabedoria armazenada e ilustrada em cada roteiro cult. Em uma aula, assistíamos o filme, em outra fazíamos um seminário baseado na leitura da literatura indicada para debatermos seu tema.
Verifiquei, no entanto, o intervalo entre eles ser muito curto para grandes leituras. Escrevi então pequenos artigos, fora do estilo academicista, para serem lidos brevemente como aprendizagem. Usei linguagem coloquial de modo a serem inteligíveis inclusive pelo iniciante no estudo de Economia e outras Ciências Sociais.
Por que o público leigo se interessará por este livro onde reúno, metodicamente, esses artigos? Minha ideia é oferecer uma leitura sintética dos conteúdos encontrados em grandes livros. Servirá de motivação para o aprofundamento por conta própria.
A atual geração universitária (e audiovisual) com “mil afazeres” em estágios não costuma ler os imensos livros originais citados na Bibliografia. Sintetizei seus conteúdos para os jovens acostumados a ler rapidamente em sites e blogs. Resumo o conhecimento essencial para ser lido e aprendido por conta própria, de maneira ligeira, mas reflexiva. São posts reescritos sob forma de pequenas crônicas econômicas.
Todos professores conhecem o ditado popular: “quem não sabe, ensina”. E está aí o segredo do negócio! Temos de aprender para ensinar! E o sabor de saber o antes desconhecido é delicioso. Leva a gente querer compartilhar o novo conhecimento com outras pessoas.
Assim, como o conhecimento das metodologias de Ciências Afins com a Ciência Econômica ficou facilitada por acesso às publicações eletrônicas de livros e artigos na web, os cientistas estão resgatando o caráter interdisciplinar dos primórdios da Economia Política. Reintegram as distintas áreas de conhecimento antes separadas pela divisão do trabalho entre especialistas. A complexidade do mundo real se torna mais visível através de uma ótica holística de todos seus componentes interativos.
Buscamos agora um entendimento integral dos fenômenos macrossociais, econômicos e políticos. Isto sem abandonar os comportamentos heterogêneos dos diversos agentes econômicos não tão racionais como os imaginávamos. As interações resultam na emergência de um sistema complexo, mas passível de interpretação.
Para esse novo método de análise econômica, na leitura do livro você obterá: um conhecimento plural de todas as correntes de pensamento econômico, ortodoxas e heterodoxas; um conhecimento multidisciplinar com a reincorporação dos métodos de todas as demais áreas de Ciências Afins antes abstraídas; e um conhecimento aplicado capaz de datar e localizar o objeto de suas análises e sugestões, ou seja, um conhecimento histórico e geográfico para tratar das dimensões tempo e espaço.
Resumo seu Sumário para lhe dar uma ideia de seu conteúdo. Na Parte I, comento a Teoria Pura (O Pensar) em cinco capítulos: O Economista; Método de Análise Equilibrista; Método de Análise Neoliberal; Método de Análise da Economia Política; e Método de Análise Interdisciplinar. Na Parte II, aplico Teoria de Outras Áreas de Conhecimento (O Querer) em estudos de História Econômica ou Economia Evolucionária; Geopolítica e Geoeconomia; Economia Política; Sociologia Econômica; Economia Comportamental ou Psicologia Econômica; e Engenharia Econômica: Projetos de País . Finalmente, na Parte III trato da Arte de Tomada de Decisões Econômicas Práticas (O Julgar) em Escolha do Regime de Política Econômica e Uso Consistente de Instrumentos de Política Econômica.
Se essa não lhe motivou a ler o livro, conto-lhe outra estória comovente. Restava somente mais seis meses de vida para uma mulher. O médico a aconselhou casar logo com um economista e viver em uma ilha deserta. A mulher perguntou: “Doutor, isto vai curar minha doença?”. O médico lhe respondeu: “Não, mas estes seis meses certamente demorarão muito mais a passar...”
Mais informações aqui.
*Fernando Nogueira da Costa é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, onde leciona desde 1985.