Ana Luiza Antunes | Estadão
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionou, nesta quarta-feira, 12, durante discurso na sede do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o uso exclusivo do dólar como lastro para exportações e defendeu a consolidação de uma moeda comum para transações entre os países do bloco, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
“Toda noite me pergunto por que todos os países estão obrigados a fazer o seu comércio lastreado no dólar. Por que não podemos fazer nosso comércio lastreado na nossa moeda? Por que não temos o compromisso de inovar? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda, depois que desapareceu o ouro como paridade”, questionou o presidente na cerimônia de posse de Dilma Rousseff para comandar o NDB, também chamado de Banco dos Brics.
Origem do domínio do dólar
Pedro Paulo Bastos, professor de desenvolvimento socioeconômico, economia internacional e brasileira no Instituto de Economia da Unicamp, explica que a consolidação do dólar como moeda internacional tem origem no período posterior à Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos, em conjunto com a Inglaterra, criaram o padrão ouro-dólar e, ao mesmo tempo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
“A proposta era que não houvesse mais uma moeda nacional que funcionasse como moeda global, mas os Estados Unidos não aceitaram a proposta. Isso porque ter a principal moeda global lhe confere uma enorme vantagem. Os Estados Unidos podem financiar suas importações ou até remessas de investimento externo para o exterior com uma moeda nacional”, explica Bastos.
À medida que a Europa é reconstruída e os demais países se tornam soberanos, aquela paridade entre dólar e ouro é cada vez mais questionada. “Passa a ter muito dólar no resto do mundo, principalmente na Europa, e os investidores começam a solicitar a conversão do dólar pelo ouro”, pontua.
Bastos comenta, no entanto, que essa movimentação impõe um limite na autonomia de política econômica, e os Estados Unidos, gradualmente, colocam restrições para que países convertam suas reservas de dólar em ouro. Em 1971, o tratado foi abolido de forma unilateral pelos norte-americanos. Passa a vigorar, então, um sistema monetário. “Isso permite uma enorme explosão nos meios de pagamento em escala Internacional e confere ao Estado americano um poder sem precedentes.”
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