Correio Braziliense

O governo oficializou nesta segunda-feira (20/1) a previsão de despesas e receitas do Executivo federal em 2020, com a publicação, no Diário Oficial da União, da Lei Orçamentária Anual (LOA) deste ano. O texto, sancionado sem vetos na última sexta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro, autoriza mais concursos públicos do que constava no projeto avaliado pelo Congresso e permite a contratação de até 51.391 pessoas. No projeto inicial da LOA, eram 35.479 vagas —16.337 a menos do que o número final.  

A maioria das vagas, 45.816, é para provimento, para preencher postos que já existem, mas estão vazios. Isso pode ser feito com a nomeação de pessoas que já passaram em concursos ou abertura de novos certames. As outras 5.575 serão novidade. Os três Poderes poderão fazer concursos, mas o Executivo ficou com 90,1% das vagas: poderá criar 3.140, além das 43.568 reservadas para cobrir buracos de pessoal já existentes na administração pública.  

O maior efetivo previsto, com espaço para 19.520 vagas de provimento, é para o banco de professores universitários. Além disso, seis novas universidades federais podem ser beneficiadas com, no total, até 5.120 contratações: de Catalão (GO), Delta do Parnaíba (PI), Rondonópolis (MT), Jataí (GO), Agreste de Pernambuco (PE) e Norte do Tocantins (TO).  

O Judiciário pode ganhar até 3.288 servidores — 1.417 para preencher vagas novas e 1.871, já existentes. O Legislativo terá até 154 postos, com criação de sete novos. No Orçamento, existe previsão para editais como o do Senado, um dos mais esperados pelos concurseiros desde o ano passado, que deve preencher 40 vagas livres. A Câmara tem autorização para até 70 contratações. 

Regra de ouro 

Mais uma vez, o Orçamento prevê que o governo não conseguirá cumprir a regra de ouro, que proíbe o governo de fazer dívidas para pagar despesas correntes, como salários e aposentadorias de funcionários públicos. Para arcar com os gastos, será preciso pedir autorização do Congresso para emitir R$ 343,6 bilhões em títulos públicos, o que deve ser feito por crédito suplementar. Em 2019, pelo mesmo motivo, foi preciso um complemento de R$ 248,9 bilhões.  

Professor do Instituto de Economia da Unicamp, Geraldo Biasoto Jr. lembra que a regra não é cumprida há anos. “A ideia é interessante, mas foi mal aplicada. Com o Orçamento praticamente todo comprometido com despesas obrigatórias, fica impossível respeitá-lo. Desse jeito, parece que é regra para inglês ver. Não é questão de fazer remendos, mas talvez de pensar em um novo tipo de regulamentação”, sugere.  

Biasoto, que foi coordenador de Política Fiscal da Secretaria de Política Econômica do então Ministério da Fazenda, cita como exemplo positivo a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que trouxe um dispositivo que detalha o que pode ser feito no caso de não cumprimento das regras.  

É mais ou menos o que prevê a PEC 438/18, em tramitação no Congresso. O projeto cria gatilhos que serão acionados sempre que a regra de ouro for desrespeitada, como o corte de incentivos fiscais, diminuição de gastos com publicidade oficial, suspensão de repasses ao Banco de Desenvolvimento Econômico e Social e venda de bens públicos.  

Outro problema gerado pela regra de ouro é que, com a dependência dos créditos suplementares, o governo fica nas mãos do Congresso, ressaltou a professora Margarida Gutierrez, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Isso porque, se os parlamentares não aceitarem flexibilizar a regra, o Executivo não consegue cumprir o Orçamento, o que configura crime de responsabilidade e pode levar ao impeachment do presidente. 

Em espera 

Os especialistas avaliam que, para o Orçamento ser respeitado, é essencial que pelo menos a Proposta de Emenda à Constituição (PECs) emergencial, enviada pelo governo ao Congresso, no ano passado, seja aprovada. Ela permite economizar dinheiro com cortes voltados para o serviço público, como diminuição de jornada de trabalho e, como consequência, de salários. A outra regulamenta a regra de ouro — que, mais uma vez, não vai ser respeitada em 2020.  

O governo contou com uma economia de R$ 6 bi com a PEC emergencial, valor que será direcionado a investimentos públicos, como o programa Minha Casa, Minha Vida e despesas com infraestrutura. Para isso, é preciso que entre em vigor no segundo semestre. Como o gasto com o salário dos servidores é obrigatório, ao contrário de despesas com infraestrutura e programas sociais, se não for possível economizar os valores esperados com a PEC, não haverá dinheiro para investimentos.

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