Fernando Sarti e Mariano Laplane | No Le Monde Diplomatique

O Brasil tem um encontro marcado com seu desenvolvimento econômico e social, que depende da diversificação e sofisticação de suas bases produtiva e tecnológica. O processo de desnacionalização em curso não tem colaborado para atingir esse objetivo. Ao contrário, a desnacionalização, aprofundada pela globalização da economia, não promoveu as mudanças necessárias nas estruturas de produção e de comércio e apenas reforçou um padrão de inserção externa frágil e subordinado.

O processo de globalização nas suas diferentes dimensões – financeira, produtiva, comercial e tecnológica – tem sido bastante assimétrico, seletivo e hierarquizado. Isso significa que a geração e captura de valor e a distribuição de ganhos e perdas decorrentes da globalização têm sido bastante desiguais entre países, empresas e setores de atividade econômica.

As grandes corporações transnacionais controlam as cadeias regionais e globais de produção e valor. A partir da gestão de seus ativos financeiros, produtivos, tecnológicos e mercadológicos, decidem o posicionamento e a distribuição das atividades dentro da cadeia de valor. Portanto, controlam a geração e captura de valor nas diferentes etapas da cadeia.

A origem do capital das corporações é um fator condicionante do perfil da base produtiva e tecnológica de um país e, por consequência, do seu padrão de inserção externa. Não é por outro motivo que os países sedes dessas grandes corporações têm adotado políticas de desenvolvimento produtivo e tecnológico com o objetivo de atraírem e reforçarem as atividades mais nobres e de maior valor agregado, incluindo as atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação.

O Brasil tem uma elevada presença de capital estrangeiro nas suas estruturas de produção e de comércio de bens e serviços. Essa participação tem se ampliado substancialmente desde a crise financeira internacional, iniciada em 2008, e com a desaceleração em 2014 e posterior recessão econômica doméstica de 2015 a 2019. A participação estrangeira tem sido reforçada pelos elevados fluxos de Investimento Direto no País (IDP), sobretudo na forma de operações de Aquisição e Fusão (A&F) de empresas nacionais, promovendo um processo de desnacionalização da base produtiva. Portanto, aumenta a preocupação com a transferência de decisões e atividades estratégicas para fora do país. O objetivo do artigo é analisar a crescente presença do capital estrangeiro e seus impactos sobre o desenvolvimento produtivo e tecnológico brasileiro.

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