Rennan Setti | Da aqui

Mais que um choque econômico, a Grande Depressão foi um evento de repercussões políticas que pôs em xeque a ordem liberal do entreguerras e abriu caminho para regimes autoritários como o nazismo. E a relação estreita entre crise e recrudescimento do extremismo guarda semelhanças com a ascensão de nacionalismos e da extrema-direita nos dias de hoje, de acordo com economistas, cientistas políticos e historiadores.

Um paralelo claro está no fato de a economia global ainda viver o eco da grande recessão eclodida em 2008, como o desemprego elevado em alguns países da Europa, a elevação da dívida e da desigualdade e, sobretudo, a persistência dos juros comprimidos. Esses fatores geram descontentamentos que foram potencializados por situações como a crise imigratória na Europa, lembrou Luiz Felipe de Alencastro, da Escola de Economia da FGV-SP.

Denis Maracci Gimenez, historiador e professor do Instituto de Economia da Unicamp, afirmou que, nos anos 1930, um dos principais desdobramentos da Depressão foi colocar em xeque a ordem liberal que se impunha desde o século XIX — contestações que voltam hoje a encabeçar a lista de prioridades de movimentos extremistas e populistas.

"Ficou claro ali que o livre jogo das forças de mercado seria incapaz de enfrentar a grave situação social e o problema econômico que havia se instalado. Essa dinâmica de mercado ficou desmoralizada, e as forças políticas foram se conformando claramente no campo antiliberal", explicou.

Naquela época, o antiliberalismo se manifestou tanto no campo da extrema-direita — em lugares como a Alemanha e a Itália — como no da social-democracia, a exemplo do que ocorreu na Suécia e no New Deal de Franklin Roosevelt.

"A resposta dos liberais era que deveriam deixar o mercado atuar para que a situação se normalizasse, mas, com o aprofundamento da crise, ficou claro que isso não ocorreria. Roosevelt quebrou esse consenso com uma política de estímulo ao investimento público, que depois seria reunida na Teoria Geral (do Emprego, do Juro e da Moeda, de 1936) , do John Maynard Keynes", acrescentou. "O denominador comum entre todos esses movimentos que romperam o consenso liberal foi a projeção de políticas de atuação do Estado."

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