MÍDIA
Fernando Nogueira da Costa | No Brasil Debate
A Secretaria de Política Econômica, assim como os demais economistas neoliberais, comete um equívoco ao usar a produtividade como indicador do futuro, quando é um resultado, portanto, calculado ex-post: após os fatos transcorridos. É a divisão da produção física, obtida em determinado período, por um dos fatores empregados na produção: trabalho, tecnologia, capital. Expressa a utilização eficiente dos recursos produtivos, tendo em vista alcançar a máxima produção na menor unidade de tempo e com os menores custos.
Comumente, a “produtividade” é resultante do trabalho humano com a ajuda de determinados meios de produção: máquinas, ferramentas e equipamentos. Ora, quando a produção entra em um longo ciclo de declínio – como a estagdesigualdade vigente na economia brasileira – e, de início, a elevação da taxa de desocupação não se dá no mesmo ritmo da queda da produção, logicamente, a produtividade cairá.
As conquistas sociais como estabilidade no emprego, multa por desempregar, etc., limitam as demissões. Também o novo custo de treinamento, em eventual recontratação, quando houver retomada do crescimento, é protelado.
Inclusive por isso há um “piso” para a recessão, tanto do lado da oferta (para ajuste e sobrevivência das empresas), quanto do lado da demanda. No caso dessa, há um “colchão amortecedor da queda do consumo familiar”, constituído pela política de salários mínimos, pelos benefícios previdenciários, pelo crescimento vegetativo do crédito ao consumidor, inclusive por usar cartões de crédito como meios de pagamento a prazo sem pagamento de juros, etc.
Essas conquistas da socialdemocracia à brasileira, após o regime ditatorial militar, são metas de destruições dos economistas defensores do Estado mínimo. Estão aliados ao retorno por via eleitoral da casta dos militares ao Poder, apoiada não só pela casta dos sabidos-pastores, mas também pela casta dos mercadores-industriais e do agronegócio.
Há economias de escala em processo de produção quando um aumento da quantidade produzida em certa proporção é obtido com um aumento em menor proporção na quantidade de recursos utilizados. Com preços de fatores de produção constantes, o custo médio se torna decrescente com aumentos da quantidade produzida.
A presença de economias de escala seria responsável pela fase descendente da curva de custo médio em longo prazo. Ela configuraria a forma de U porque após passar por um ponto mínimo, onde estaria o tamanho ótimo da firma, passariam a ocorrer deseconomias de escala. Estas seriam resultantes das dificuldades gerenciais de controle de uma organização crescente.
Esse tamanho ótimo varia, ao longo do tempo, de acordo com as condições tecnológicas de produção. O processo produtivo, visto com holismo – abordagem em busca entender os fenômenos de uma maneira integral, por oposição à análise analítica de seus constituintes em separado –, é concebido como a emergência de uma auto-organização de várias atividades interativas.
Em algumas delas predominam tendências de economia de escala, enquanto em outras surgem deseconomias. A predominância resultante depende de ponderação e outros fatores circunstanciais. Cada configuração necessita ser analisada a par e passo. Essa expressão latina 'pari passu' (igual passo) significa “ao mesmo tempo” ou “juntamente”.
Há muitas dificuldades em verificação empírica de economias de escala e daí de produtividade dos fatores. A produção é definida como a quantidade de produtos produzidos. Os fatores de produção são definidos como trabalhadores, máquinas ou equipamentos, recursos naturais. Quanto maior for a relação entre quantidade produzida e cada fator utilizado, maior é a produtividade.
A produtividade costuma ser medida por trabalhador, mas em muitas situações onde os custos com pessoas são uma percentagem reduzida dos custos totais têm de se levar em conta os outros fatores necessários para produzir os resultados pretendidos, por exemplo, os robôs em automação. O grau de produtividade de um agente econômico (pessoa, empresa, país, etc.) mede seu nível de eficiência e eficácia.
Há dificuldades metodológicas para aferir a performance organizacional de uma empresa com base em resultados de sua produtividade e comparar a eficácia da gestão.
Estudo de funções de custo em cross section é dificultado pela identificação do custo econômico relevante, se é o custo contábil histórico ou o valor de mercado atualizado. A quantidade produzida ou vendida de um produto da empresa, em certo período, é uma variável aleatória, cujas variações não são controladas pela vendedora.
Assim, a variável relevante para o processo de decisões torna-se o custo esperado, e não os dados observados em determinado período. Eles poderiam indicar a presença de economias de escala apenas em virtude da comparação de níveis de produção anormalmente altos em algumas empresas se comparados aos níveis de outras.
No caso de empresas produtoras de vários produtos, o problema da quantificação de economias de escala se agrava, porque é muito difícil distribuir corretamente os custos compartilhados entre os produtos finais. Bancos, por exemplo, são empresas prestadoras de múltiplos serviços em diversas agências e back-offices de compensação e registros, centralizados na matriz. Grandes negociações são feitas pela tesouraria.
Teoricamente, supõe-se possível construir um “índice de produção ponderado” pelos pesos relativos de todos os produtos da empresa. Para cada nível de agregação do produto, o índice teria de ser insensível às variações dinâmicas de sua composição. Serviço, por exemplo, é definido como o encontro do produtor direto com o consumidor no ato da produção. A unidade de produção seria, no exemplo citado, cada bancário?
Um método alternativo de verificar a presença de economias de escala se baseia no “princípio da sobrevivência”. Sua hipótese é o processo de competição entre firmas de diferentes tamanhos eliminar aquelas de porte ineficiente. Para a avaliação, observa-se a distribuição ótima de porte para a qual a atividade tende através do tempo de análise.
É uma concepção darwiniana aplicada na tentativa de resolução do problema de conhecer o tamanho ótimo de empresa com maior produtividade. Entretanto, o conceito de eficiência, implícito nesse método, não se restringe ao aproveitamento de fatores de produção a custo mais baixo, mas também se relaciona como todas as formas de competição: reservas de mercado, diferenciações de produtos, campanhas de marketing, etc. Escapa da estimativa da eficiência produtiva propriamente dita. A técnica de sobrevivência é muito definida pela regulação no caso da atividade bancária.
O problema da existência de economias de escala na atividade bancária e outras similares na prestação de múltiplos serviços encontra-se na dificuldade de verificação empírica. Exige a adoção de uma definição operacional correta dos diversos produtos dos bancos, além do tratamento correto da produção conjunta.
A contabilidade de custos visa determinar os custos de produção de uma empresa medindo seus custos diretos, como matéria-prima, e somando os gastos indiretos ou custos fixos. A imprecisão inerente a esse método leva muitas vezes ao desconhecimento relativo das empresas sobre seus custos.
Sabem mais a respeito dos custos diretos, mas nem tanto em relação aos custos indiretos a serem alocados a produtos específicos. Consequência disso é a empresa alocar despesas de marketing para um produto não lucrativo a ponto de justifica-las.
No mundo idealizado dos teóricos, um sistema contábil mediria cada aspecto de todas as transações e decisões relacionadas a um produto ou serviço específico. Isso se daria de melhor forma por meio do custeio baseado em atividades.
No sistema contábil, estimam-se os gastos indiretos supondo cada unidade produzida ter a mesma participação nos custos totais. O custeio baseado em atividade abre os gastos indiretos para saber quais atividades criam os custos. Isso permite à empresa precisar o custo de fabricação de um produto “exatamente” – e não “mais ou menos”.
Esse grau de precisão é necessário quando se consideram produtos não padronizados. O custeio baseado em atividades talvez mostre os custos associados a uma ordem específica serem superiores aos dos produtos tradicionais. Ajuda a fixar preços certos.
Para implementar um custeio baseado em atividades, uma empresa precisa:
identificar todas as atividades e os recursos diretos e indiretos;
determinar os custos por atividade indireta;
identificar os fatores de custo para cada atividade.
Por exemplo, um caixa de banco tem muitas atividades. Quando mede os fatores influentes ou criadores de custo de uma atividade como o manuseio de cheques ou contas a pagar, o banco deve descobrir em quanto tempo e com quais movimentos o caixa faz cada uma de suas múltiplas atividades.
A partir daqueles três cálculos, uma empresa pode calcular os custos totais, diretos ou indiretos, para um produto ou serviço. Ao dividir esses custos pela quantidade produzida, chega a um custo unitário preciso.
O cálculo preciso de custos unitários permite à empresa tomar melhores decisões de alocação dos custos de acordo com os recursos consumidos. Identifica os produtos com margens de lucro justificadoras de suporte de propaganda e permite comparações de modo a tomar decisões de investimento.
'Tá tudo muito bom (bom), 'tá tudo muito bem (bem), mas realmente, mas realmente, a produtividade depende, em última análise, de circunstâncias macroeconômicas, indo além da vontade empresarial ou da capacitação dos trabalhadores.
As opiniões expressas no artigo são de responsabilidade pessoal do autor.
* Fernando Nogueira da Costa é professor titular do IE-UNICAMP. Autor de “Métodos de Análise Econômica” (Editora Contexto; 2018). http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/ E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.