MÍDIA
André Julião | Agência FAPESP – O G20, grupo das 19 nações mais ricas do mundo, mais a União Europeia e a União Africana, apresentou na semana passada um acordo para triplicar as fontes de energias renováveis até 2030. Por já contar com fontes renováveis na maior parte de sua matriz energética, o Brasil tem papel de destaque nessa discussão. Entre as opções para uma transição energética, temos fontes renováveis como a hidráulica, solar, eólica e biomassa da cana-de-açúcar – esta última com o Estado de São Paulo entre os líderes de produção no país.
A bioenergia e a eficiência energética foram os temas da edição mais recente do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, promovido pelo Instituto do Legislativo Paulista (ILP) e pela FAPESP. A íntegra do evento pode ser conferida no canal da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) no YouTube.
“A energia é limitada em sua disponibilidade, por isso tem de ser usada corretamente. Muitas vezes, é tratada como um problema de suprimento, como se a solução fosse apenas aumentar a oferta. Independentemente da fonte, porém, temos de discutir o uso adequado, uso de recursos renováveis e a cogeração”, resumiu Luiz Augusto Horta Nogueira, pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Universidade Estadual de Campinas (Nipe-Unicamp) e membro do comitê científico do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), que mediou o debate.
Marcelo Pereira da Cunha, professor do Instituto de Economia da Unicamp, lembrou que, apesar dos benefícios que os combustíveis fósseis trouxeram, as emissões de gases do efeito estufa obrigam uma transição para fontes limpas. Globalmente, dois terços das emissões desses gases advêm da queima de derivados de petróleo e do carvão mineral.
“Naturalmente, a matriz de emissões do Brasil é um pouco diferente, bem menor, mas não deixa de ser importante”, ressalva. Para ele, além do fator ambiental, é preciso levar em conta os impactos socioeconômicos das diferentes fontes energéticas.
Segundo o pesquisador, a produção de biocombustíveis no Brasil gera seis vezes mais empregos do que a de combustíveis fosseis. “Ela mexe mais com a cadeia produtiva em termos de geração de renda”, pontuou.
Cunha fez a ressalva de que setores como o petroquímico são mais bem remunerados. No setor de biocombustíveis, a remuneração média é 70% do que se paga no setor de fontes energéticas fósseis. Outro ponto, porém, é que 45% da geração de riqueza da cadeia de bioenergia está concentrada no fator trabalho, enquanto na de fósseis é da ordem de 18%.
“A geração de renda associada a biocombustíveis está muito mais concentrada na remuneração do trabalho do que na distribuição de capital aos acionistas”, afirmou.
Cogeração e eficiência
Newton Duarte, presidente-executivo da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), lembrou da importância da cogeração, a produção simultânea e de forma sequenciada, de duas ou mais formas de energia a partir de um único combustível. É o caso da geração de energia elétrica e térmica a partir da produção de bioetanol de cana-de-açúcar, por exemplo.
Segundo Duarte, a cogeração respondeu por cerca de 10% da geração de energia do país em 2024 e esse percentual pode crescer muito mais. A modernização das usinas pode aumentar em mais de dez vezes a produção de eletricidade com a mesma quantidade de biomassa.
“Uma usina-padrão, que processa 2 toneladas de cana, atualmente produz cerca de 6 megawatts. Com a modernização, pode chegar a quase 80 megawatts com a mesma quantidade de bagaço de cana”, explicou.
Outro tópico de interesse para o Brasil abordado pelo executivo foi o dos carros elétricos. Apesar de estar sendo adotado como se fosse a solução para as emissões de gases de efeito estufa, ele lembrou que esses veículos dependem da rede elétrica.
“Os carros híbridos a etanol, além daqueles apenas a etanol, são os que menos impactam o meio ambiente, com menor emissão de CO2”, disse.
Para Rodolfo Pinheiro da Silva, coordenador do Instituto Senai de Inovação em Sistemas Elétricos de Potência, o Brasil está onde todos os países do mundo gostariam de estar na transição energética. “Estamos numa situação muito privilegiada, do ponto de vista do percentual de energias renováveis na geração de energia e da participação da bioenergia na matriz energética. Mas é importante trazer uma visão sobre o consumo de energia”, afirmou.
Segundo o gestor, estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) dão conta de que o potencial de redução das emissões globais de CO2 por meio da eficiência energética é de 25% até 2040.
“No Brasil, com a implementação de ações de eficiência energética, estima-se ainda que se possa reduzir o consumo entre 15% e 30% a depender do setor. Então, olhar a indústria e o processo produtivo, olhar o consumo de energia e buscar a sua eficiência são fundamentais”, reiterou. Outro ponto mencionado das estimativas da IEA foi o de que quase 50% da redução das emissões necessárias até 2050 virá por meio de tecnologias que ainda não estão disponíveis no mercado.
“Temos um potencial de desenvolvimento tecnológico em torno das tecnologias voltadas e direcionadas à eficiência energética gigantesco, que é necessário se quisermos efetivamente alcançar os números de redução na quantidade de gases de efeito estufa”, concluiu.
O evento contou ainda com a participação do deputado estadual Sebastião Santos, coordenador da Frente Parlamentar de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico, Implantação de Cidades Inteligentes e Expansão de Projetos de Energia Renovável e Sustentável, e de Agnes Sacilotto, diretora-presidente do ILP.