MÍDIA

 

Leonardo Miazzo | Carta Capital

 

A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central de elevar a Selic de 10,5% para 10,75% ao ano parte de argumentos equivocados sobre as características da inflação e dos melhores instrumentos para combatê-la, afirmou a CartaCapital o economista Fernando Sarti, livre docente do Instituto de Economia da Unicamp.

Em seus dois encontros anteriores, o Copom optou por conservar o índice de 10,5%, encerrando um ciclo de cortes iniciado em agosto de 2023.

No cenário doméstico, alegou que “o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado”.

Conforme o mais recente Boletim Focus, por meio do qual o BC reúne as projeções de mais de 100 instituições financeiras, a expectativa de inflação em 2024 passou de 4,30% para 4,35% – a meta é de 3%, com uma tolerância entre 1,5% e 4,5%.

A projeção do Produto Interno Bruto deste ano também cresceu: de 2,68% para 2,96%.

Esse cenário, porém, não serve para justificar o início de um nova sequência de altas na Selic, segundo Fernando Sarti. Ele avalia que a inflação aumentará por um “choque de oferta” e mencionou os efeitos da seca histórica que castiga o Brasil.

“Isso não se resolve com taxa de juros, ao contrário. É realmente jogar a criança fora com a água do banho”, resume o economista.

O crescimento próximo a 3%, por sua vez, decorrerá de uma trajetória sólida e abarcará diversas atividades, ressalta Sarti. “Estão jogando água fria, abortando um crescimento que traria no médio e no longo prazos, inclusive, a possibilidade de atrair novos investimentos produtivos importantes para o País.”

Para Fernando Sarti, o Brasil precisa se viabilizar como uma plataforma relevante no reposicionamento global entre Estados Unidos e China.

“Abrir mão dessa oportunidade que vai determinar o País para os próximos 10 anos me parece um um diagnóstico absolutamente equivocado”, criticou. “O que não podia era ter abordado tão rapidamente o ciclo de redução. Na pior das hipóteses, uma manutenção para observar o impacto da redução nos Estados Unidos e em outras economias. Estamos na contracorrente.”

 

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