Pedro Rossi | No Extra Classe
“A crise social, política e econômica fez com que a maior parte dos eleitores votasse pela mudança. Só que esta mudança tem muitas soluções de continuidade das políticas implementadas a partir de 2015, o que tende a arrastar a crise econômica que vivemos. Além disso, o recuo da atuação do Estado pode gerar uma desigualdade muito forte. A manutenção da atual política econômica e de pessoas ligadas a ela, aliada à desconstrução de direitos sociais, vai frustrar uma parte significativa da base de apoio, inclusive a que foi comovida pelo discurso do ódio, aquela que acreditou ou acredita que a solução seria extirpar do sistema uma determinada visão de mundo. Ou seja, não há no horizonte indicação de que o próximo governo vai entregar uma sociedade melhor, menos corrupta, com menos violência, com mais segurança, mais direitos sociais e mais emprego e renda. O que há é a sensação de que, por uma série de fatores, o projeto anunciado dificilmente será cumprido”, elenca o diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor do Instituto de Economia, Pedro Rossi.
Rossi, em conjunto com Esther Dweck e Ana Luiza Matos de Oliveira, responde pela organização do livro Economia Para Poucos: impactos sociais da austeridade e alternativas para o Brasil, lançado neste ano, e que articula o tema da gestão orçamentária com a agenda dos direitos sociais. No trabalho, diferentes análises e bases de dados demonstram que, no Brasil, o gasto público, em particular aquele com saúde, previdência e educação, tem um efeito distributivo muito grande, e que sua desconstrução vai aumentar ainda mais a desigualdade.
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