MÍDIA

Do UOL

A escassez mundial de matérias-primas, um efeito colateral da retomada econômica da pandemia de coronavírus, prejudica a atividade nos países desenvolvidos, mas pode trazer benefícios a grandes exportadores, como o Brasil. Entretanto, a alta dos preços das commodities traz efeitos colaterais perigosos.

Petróleo, metais, minerais, produtos agrícolas — o Brasil produz e exporta todas essas commodities que faltam no mercado internacional para atender à demanda de países como a China, em forte recuperação das atividades pós-covid-19, além da Europa e os Estados Unidos. A alta da procura leva os preços das matérias-primas a bater recordes. Somente em abril, a cotação do preço da madeira explodiu 300%, do petróleo, 222%, e do aço, 210%. Além disso, maio teve o maior aumento mensal nos preços dos alimentos em mais de uma década.

Puxada pelas exportações de commodities, a balança comercial brasileira tem registrado superávits sucessivos e até históricos, como em junho. A conjuntura atual leva muitos analistas a apostarem que podemos estar diante de um quarto superciclo de commodities, destinado a durar pelo menos 10 anos. O último ocorreu nos anos 2000, com a ascensão dos países emergentes do BRICS. Mas o tema divide: para outros especialistas, a situação atual é meramente conjuntural, resultado direto dos planos de retomada lançados mundo afora.

"O Brasil pode se beneficiar em partes. A China é hoje é disparadamente o maior destino das exportações brasileiras e, deste ponto de vista, esses produtores exportadores serão beneficiados. Mas a questão que se coloca é se a competitividade desses setores não acaba comprometendo, de alguma maneira, o desenvolvimento industrial dos demais setores", avalia o economista Fernando Sarti, professor da Unicamp e especialista em cadeias mundiais de produção. "A indústria brasileira não tem recebido investimentos, está defasada do ponto de vista tecnológico. Os setores minerais e agrícolas vão surfar nesse ciclo, mas para a economia como um todo, isso talvez não seja benéfico. Esses setores não geram emprego, levam a um crescimento baixo, são muito pouco tributados."

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