MÍDIA
Ricardo Machado | Da IHU Unissinos
Com a reabertura gradual dos setores produtivos depois de dois meses de distanciamento social, a questão que se coloca no momento “é como será o pós-coronacrise” do ponto de vista econômico e social, pontua o economista Guilherme Mello à IHU On-Line. Segundo ele, a recuperação da economia vai depender de dois fatores: da dinâmica do próprio vírus, que poderá exigir o retorno ao isolamento social ao longo do ano, e da capacidade do Estado de coordenar as áreas econômica e social, induzindo o investimento pós-crise. A intervenção estatal, assegura, será fundamental na recuperação econômica do país. “Caso o governo decida reduzir o endividamento público rapidamente através do corte de despesas públicas, haverá um enorme risco de que a recessão momentânea se torne uma depressão prolongada. O setor privado deve sair muito enfraquecido dessa crise, endividado e sem receitas, o que o tornará ainda menos capaz de promover uma retomada sustentada do investimento em uma economia debilitada como a brasileira”, afirma. O economista diz ainda que “é possível e desejável que no pós-crise se discuta uma reforma tributária com um duplo objetivo: para recompor a arrecadação perdida desde a crise de 2015 e para cobrar imposto dos muito ricos, que hoje pagam muito pouco em relação a sua renda”.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, o economista Arthur Welle também analisa o impacto da Medida Provisória - MP 936/2020 tanto para os trabalhadores que tiveram contratos de trabalho renegociados, quanto para a economia de modo geral. De acordo com ele, o governo federal poderia ter feito uma reposição integral da massa salarial perdida durante a crise pandêmica, porque o custo mensal do programa de auxílio emergencial não seria muito diferente do atual, que varia entre 0,2% e 0,6% do Produto Interno Bruto - PIB. “Nota-se que estes valores são relativamente pequenos se comparados ao PIB. O custo mensal do programa de auxílio emergencial varia de 0,2% a, no máximo, 0,6% do PIB. Não seria um passo muito maior se o governo se dispusesse a fazer a reposição integral da massa salarial perdida, o que ajudaria a conter as consequências econômicas da crise”, argumenta.
Welle apresenta três cenários que simulam os possíveis impactos da MP na economia. Num cenário mais realista, em que os setores serão afetados diferentemente pela crise, com reduções de jornadas e salários igualmente diferenciados, é possível que haja uma queda da massa salarial de 17%. Em valores absolutos, explica, “o montante total de redução de dinheiro na economia varia entre R$ 7,4 bilhões e R$ 21,7 bilhões por mês, a depender do cenário em questão”. Essa redução terá um impacto significativo na economia doméstica. “A renda dos trabalhadores é o que cria capacidade de consumo e, portanto, a demanda para os produtos e serviços que são ofertados pelas empresas. Deste modo, esta redução abrupta nos salários privados faz com que as famílias consumam menos produtos e serviços. As empresas, em especial as pequenas, sofrerão diretamente pela redução da massa salarial. Vale lembrar que no Brasil o consumo das famílias responde por 65% do PIB sob a ótica da demanda”, conclui.
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