O que mais surpreende no ideário conservador contemporâneo é que a exaltação das virtudes do livre funcionamento dos mercados é feita em nome da modernidade. Mas qual modernidade, se foi sob o império do livre mercado que o mundo foi lançado na catástrofe de 1929? Qual modernidade, se a ausência de controle estatais, antes de 1930, tornava a acumulação capitalista uma verdadeira máquina de ampliar as desigualdades sociais?
No Brasil, os liberais conservadores apontam o “estatismo” como causa de nossas ineficiências e de nossa miséria social. Esquecem-se também que foram as intervenções do Estado, após 1930, que propiciaram rápido crescimento econômico e profundas transformações sociais.
Nas últimas décadas do Século XX, a emergência de uma nova revolução industrial em meio à globalização financeira e a desregulação econômica neoliberal ampliaram o desemprego e a precarização das condições de trabalho.
Curiosamente, os liberais conservadores têm se apresentado como reformistas e afirmam que as tentativas de preservar mecanismos reguladores do Estado constituiriam práticas conservadoras. Mas a proposta de reorganização por meio da liberalização dos mercados significa simples volta ao passado, a um passado que, por suas mazelas, foi repudiado pela sociedade.
O atual governo brasileiro parece decididamente engajado nessa volta ao passado. Mantém a forma passiva da inserção da economia nacional na economia mundial – que favorece a ruptura da estrutura produtiva -, a desregulação – que favorece uma reestruturação produtiva predatória, com o fim das câmaras setoriais e de políticas industriais e agrícolas –, e as políticas macroeconômicas ancoradas na sobrevalorização da moeda e em elevados juros.