Autor: Barjas Negri e Geraldo Di Giovanni
A ideia deste livro nasceu em 1998, quando os organizadores, juntamente com alguns colegas que dele participam, reconheciam a necessidade de novos estudos e pesquisas que pudessem dar conta da realidade do setor saúde no Brasil, tal como se apresentava nos anos 90.
O conceito de complexo econômico, desenvolvido no final dos anos 70 nos estudos sobre a saúde e a medicina no Brasil, trouxe, de fato, muitos ganhos no entendimento daquela realidade. Se, de um lado, sintetizava a interação "sui generis"de fatores, variáveis e condições heterogêneas no campo da saúde; de outro lado, conduziu a um trabalho interdisciplinar que teve o mérito de revelar a maneira pela qual os diversos segmentos envolvidos no sistema desenvolviam lógicas próprias, muitas vezes incongruentes, sem a convergência e a sinergia necessárias para que se alcançasse seus objetivos finais, quais sejam, a equidade, a eficiência e a eficácia na atenção à saúde da população. Foi dessa perspectiva e dentro de um marco conceitual com esta envergadura que a questão da saúde no Brasil foi interpretada e, ao que tudo indica, com grandes avanços no conhecimento e em suas aplicações.
De modo geral, os processos ocorridos nas décadas de 70 e 80 ficaram conhecidos como o momento de capitalização da medicinal no Brasil, quando o Estado brasileiro foi o principal financiador e provedor do sistema que seria chamado de "o complexo médico-industrial brasileiro".
Neste livro, trata-se, a partir de várias perspectivas e também de diferentes enfoques temáticos, daquilo que está sendo caracterizado na sua Introdução como o processo de mercantilização da saúde, no qual o setor privado de produção de bens e prestação de serviços de saúde ganha autonomia no que diz respeito às suas condições de financiamento, ao mesmo tempo em que o Estado desenvolve um novo aparato regulatório para o desenvolvimento do setor. Embora sejam evidentes as diferenças relativas ao período anterior, o pano de fundo continua sendo a idéia de complexo econômico, que se revelou também extremamente útil no estudo dos anos 90, uma vez que permitiu captar as novas lógicas e os novos padrões de acumulação desenvolvidos no interior de seus segmentos privados.
É claro que esse processo, aqui genericamente enunciado, tem a ver com as grandes transformações econômicas ocorridas em escala planetária e com a maneira particular que tais mudanças refletiram-se no Brasil, na década de 90. Tem a ver também com a forma de inserção do país nesse contexto internacional mutante. E, do ponto de vista político, além das escolhas brasileiras relativas aos rumos de seu sistema de proteção social inclusivo, reflete ainda o caráter da política de saúde brasileira, bem como de suas políticas de suporte.
Assim sendo, o livro procura cobrir os múltiplos aspectos dessa realidade tão complexa: as indústrias e o trabalho no campo da saúde, as formas de financiamento do setor público e do setor privado, as tentativas de reforma e as inovações organizacionais ocorridas no Brasil e no exterior. Realiza, ainda, uma detalhada análise do setor de saúde suplementar, ou seja, o setor privado de atenção à saúde em nosso país.
Como o leitor poderá verificar, este volume resulta do trabalho de um grande número de profissionais, dentre os quais alguns são autores dos capítulos e anexos aqui apresentados e outros não. Entretanto, os organiza dores querem registrar o grande entrosamento e a notável dedicação que marcaram todas as equipes (coordenadores, pesquisadores, auxiliares e, finalmente, autores) durante todas as fases do trabalho. A estas equipes e pessoas registramos nosso mais sincero agradecimento, bem como o reconhecimento do Ministério da Saúde, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas e do Instituto de Economia, ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).