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Autor:
José Graziano da Silva
Os textos que compõem este livro foram escritos entre 1987 e 1993. A maioria deles foi publicada em revistas especializadas e/ou em publicações de circulação relativamente restrita, o que nos levou a reuni-los neste volume.

O primeiro capítulo, “Do complexo rural aos complexos agroindustriais”, é um texto escrito em parceria com Angela Kageyama para a introdução de um trabalho mais amplo intitulado “O novo padrão agrícola brasileiro: do complexo rural aos complexos agroindustriais” (Delgado et al., 1990). Ele representou uma verdadeira ruptura no nosso modo de pensar a agricultura brasileira como um setor relativamente autônomo que se integrava cada vez mais ao restante da economia nacional. Nele desenvolvemos a ideia de que havia uma nova dinâmica em gestação por trás daquilo que se convencionou chamar de “modernização conservadora” da nossa agricultura. Ou seja, no pós-1964, se constituem e consolidam vários complexos agroindustriais com determinações internas e externas muito distintas, de maneira que a partir de meados dos anos 70 já não se pode mais falar de uma agricultura brasileira como unidade analítica relevante.

O segundo capítulo, “ A gestão das políticas na agricultura brasileira moderna”, procura mostrar como por trás dos vários complexos havia uma “administração” do Estado através das políticas agrícolas e não-agrícolas, as quais eram diferentes das políticas de épocas anteriores porque expressavam interesses de outros grupos econômicos. Nosso quadro de referência teórico era o da “balcanização” do Estado e a sua consequente perda de poder regulador setorialm em função do crescente fracionamento dos interesses do que se poderia chamar de rural, agrário ou, ainda mais restritamente, de agrícola.

O terceiro capítulo, “Complexos agroindustriais e outros complexos”, representa a nossa tentativa de contribuir para o debate teórico a respeito das unidades relevantes de análise na agricultura brasileira atual. Ele introduz também a abordagem neocorporativista por influência de Eduardo Moyano, a quem devemos a iniciação dos primeiros passos num terreno que me parecia antes pantanoso: a relação Estado-grupos privados, tema ao qual voltarei mais adiante nesta apresentação.

O quarto capítulo, “Uma década perversa: as políticas agrícolas e agrárias dos anos 80”, remete-nos à avaliação da ação do Estado no período entre os governos Figueiredo e Collor. Ao contrário do que se imagina, os piores anos da crise econômica que empobreceu milhões de brasileiros não foram ruins para os grandes produtores agropecuários. E a ação do Estado foi decisiva para separar os que ganharam dos que perderam, através da perversa combinação de um brutal arrocho salarial com uma política de câmbio defasado e a administração de polpudos subsídios direcionados a grupos de interesses específicos.

O capítulo 5 discute a relação entre distribuição de renda, preço dos alimentos e padrão de desenvolvimento agrícola. Aí argumentamos que o problema da fome no Brasil dos anos 90 está fundamentalmente relacionado à questão do baixo poder aquisitivo da classe trabalhadora.

O capítulo 6, “A urbanização e a industrialização da agricultura brasileira”, discute as principais tendências do espaço rural brasileiro, que não mais pode ser reduzido apenas a sua dimensão agrícola e/ou agrária. Assim, por exemplo, as tradicionais atividades produtivas não conseguem mais explicar, por si sós, a dinâmica do emprego e da população rural do país. É preciso incluir outras variáveis, como as atividades rurais não-agrícolas decorrentes da crescente urbanização do meio rural (moradia, turismo, lazer e outros serviços), as atividades de preservação do meio ambiente, além de um conjunto de pequenos negócios agropecuários intensivos (piscicultura, horticultura, flores, fruticultura de mesa, criação de pequenos animais, tipo rã, canários e aves exóticas, plantas ornamentais, etc.) que buscam “nichos de mercado” muito específicos para sua inserção econômica.