ARTIGO ACADÊMICO
O estudo intitulado "Influência da Temperatura e Precipitação na Incidência de Dengue em Campinas, São Paulo (2013-2022)" é uma colaboração entre pesquisadores da Unicamp: Bernardo Geraldini, doutorando em Teoria Econômica, Igor Cavallini Johansen, especialista em Epidemiologia, e Marcelo Justus, professor do Instituto de Economia. A pesquisa investiga a relação entre fatores climáticos, como temperatura e precipitação, e a incidência de dengue no município de Campinas, destacando-se pela aplicação de métodos econométricos avançados para análise de dados de saúde pública.
Utilizando dados mensais de casos de dengue e informações climáticas coletadas entre 2013 e 2022, os pesquisadores empregaram modelos de regressão linear com erros ARIMA para compreender como mudanças na temperatura e na precipitação influenciam a propagação da dengue. Os resultados indicam que um aumento de 1°C na temperatura média pode levar a um aumento cumulativo de até 40% na incidência de dengue em um período de dois meses. Esse achado é particularmente relevante, pois sugere que o aumento da temperatura tem um impacto direto e significativo na proliferação da dengue, enquanto a precipitação não mostrou um efeito estatisticamente significativo na incidência da doença.
A pesquisa é inovadora ao destacar a importância da temperatura como um fator determinante na disseminação da dengue, contrastando com estudos anteriores que sugeriam uma influência combinada de temperatura e precipitação. Em Campinas, a análise revelou que, embora a temperatura mais alta possa acelerar o ciclo de vida do mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, a precipitação não exerce um papel claro, possivelmente devido às características urbanas específicas da cidade, como a presença de criadouros artificiais que não dependem diretamente da água da chuva.
Os resultados obtidos são fundamentais para a formulação de políticas públicas de saúde mais eficazes, especialmente em um cenário de mudanças climáticas globais. Com o aumento das temperaturas médias, espera-se que a dengue se torne uma ameaça ainda maior, não apenas em áreas tropicais, mas também em regiões mais frias que poderão aquecer. O estudo também sugere que os modelos econométricos utilizados podem ser ferramentas valiosas para prever surtos futuros de dengue e outras doenças transmitidas por vetores, auxiliando as autoridades de saúde na preparação e resposta a essas emergências.
Além disso, a pesquisa destaca a necessidade de um planejamento urbano consciente que leve em consideração a mitigação de fatores que contribuem para a proliferação do mosquito transmissor da dengue. Em Campinas, por exemplo, práticas inadequadas de armazenamento de água, especialmente durante períodos de seca, como observado em 2014, podem criar condições favoráveis para a reprodução do mosquito. Assim, o estudo enfatiza a complexidade da dinâmica entre clima, comportamento humano e saúde pública, sugerindo que estratégias de controle da dengue devem ser adaptadas às condições locais.
Financiado parcialmente pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o estudo reforça a importância de uma abordagem multidisciplinar para o combate a doenças tropicais no Brasil. Ao integrar conhecimentos de economia, epidemiologia e ciências climáticas, os autores oferecem uma perspectiva abrangente e inovadora sobre os desafios e oportunidades no controle da dengue. Essa colaboração interdisciplinar ressalta o papel central das universidades na geração de conhecimento aplicado, que pode orientar tanto políticas públicas quanto iniciativas comunitárias para reduzir o impacto de doenças infecciosas.
Para ler o artigo completo, acesse: https://www.scielo.br/j/rsbmt/a/nGwhfZtHpbRWyxNf3MkxYFg/?lang=en.