Elias Jabbour | Diplomatique Brasil

Direto ao ponto: placar da reforma da previdência: 379 x 131; na votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o escore fora de 367 favoráveis contra 137. Nas eleições à presidência da Câmara em 2015 – vencida pelo então deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – Arlindo Chinaglia (PT-SP) obteve 136 votos. De imediato o que demonstram esses três resultados é o isolamento nada relativo das esquerdas no parlamento. Um isolamento que demonstra três fatos: 1) evidente perda de iniciativa política desde as manifestações de 2013 e, sobretudo, após a crise econômica aprofundada já sob o governo Dilma Rousseff; 2) esse isolamento pode ser espelho da própria sociedade em que a subjetividade nacional está entorpecida por visões que misturam desde fanatismo religioso, passando por antipetismo patológico até a absorção fácil de teses fiscalistas e culpa dos problemas atribuída à “corrupção”.

Um terceiro fato é resultado tanto da vitória de Bolsonaro quanto de sua ojeriza ao parlamento. A reforma da previdência, e sua vitória no plenário da Câmara, não foi resultado da capacidade de articulação política do governo, apesar do peso da máquina pública e da caneta presidencial à medida em que o processo na Câmara avançava. Foi uma vitória de um outro polo de poder que surge com força no parlamento: uma centro-direita comandada por um astuto político liberal (Rodrigo Maia) que ao tomar para si – e de forma corajosa – a “defesa da política” conseguiu aglutinar em torno de si o chamado “centrão”.

O resultado não foi somente a vitória da reforma da previdência. Esse novo polo de poder tem agenda própria de país e está disposta a se transformar em uma “unidade de contrários” com a extrema-direita – que é força considerável na sociedade – em torno de pautas liberais na economia e de satisfação das bases eleitorais, nos rincões do Brasil, dos deputados do chamado “baixo clero”. Bom notar que essa reforma da previdência clarifica essa dita “unidade de contrários”: militantes bolsonaristas continuam a atacar o Congresso pela perda de “poder fiscal” da reforma (da cabala dos R$ 1 trilhão a serem economizados reduzidos a pouco mais de R$ 700 bilhões) pela ação da “velha política”. Se a agenda liberal os aproxima, a questão democrática e as minúcias do jogo da “grande política”, não. Voltaremos a falar disto.

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