Ricardo Carneiro | Diplomatique Brasil

A julgar pela atitude do ministro Paulo Guedes que na última quinta-feira, dia 26 de março, no meio da manhã, caminhava no calçadão da praia de Ipanema, a crise sanitária e econômica pela qual passa o Brasil não merece atenção particular. Essa interpretação pode parecer descomedida, mas o exame detalhado das medidas econômicas tomadas para enfrentar a pandemia e seus desdobramentos parece comprová-la. A lógica que comanda a ação do Guedes é clara: a austeridade fiscal e o ajuste permanente expressos nas regras fiscais estruturais vigentes no Brasil devem ser relaxados, porque é inevitável, o mínimo possível. Aliás, é em torno dessa última postura que o ministro mistifica o esforço fiscal do governo, inclusive confundindo-o propositalmente com medidas de outra natureza, com intuito de criar uma ilusão sobre o tamanho e relevância do programa.

Aparentemente, o programa de enfrentamento à crise é robusto, alcançando cerca de 10,3% do PIB, mas na verdade ele é bem menor. Ademais uma das suas principais características é a lentidão. Várias das medidas anunciadas, sobretudo as que dependem de recursos fiscais, ainda sequer foram enviadas ao Congresso e as que foram lá aprovadas estão aguardando sanção do Executivo. Além do atraso, o critério central para julgar as medidas e seu impacto na economia é o efeito que produzem diretamente na manutenção ou ampliação da renda e do emprego. Assim, por exemplo, para tomar dois casos extremos, programas fiscais que ponham renda nas mãos das famílias transformam-se imediatamente em gastos; já linhas de liquidez para os bancos dificilmente produzem o mesmo efeito. É, portanto, à luz desse critério, ou seja, a capacidade de se transformar em gasto, que as várias medidas devem ser avaliadas.

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Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil