Ricardo Carneiro | Diplomatique Brasil

Desde há algum tempo, e mais precisamente a partir de 2017, economistas e instituições ortodoxas, como por exemplo, o Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec), em vários relatórios, e o próprio Banco Central, em Financiamento amplo das empresas. Relatório de Inflação (jun. 2018), têm insistido na tese de que, finalmente, o mercado de capitais passou a desempenhar a contento as suas funções na economia brasileira. Isso ficaria evidente, não só no expressivo crescimento de emissões de dívidas corporativas como também na simultânea substituição de fontes tradicionais originárias de bancos públicos, em particular do BNDES. Assim, o capitalismo brasileiro estaria se vendo livre de instrumentos arcaicos, como o crédito direcionado e subsidiado, e, também, de bancos públicos ineficientes. À luz do significativo crescimento do mercado de capitais, em concomitância à queda do desembolso do BNDES, concluem que este é cada vez menos necessário, afinal de contas, o mercado de capitais doméstico está dando conta, progressivamente, de financiar as empresas e os seus investimentos.

Além de ser apressada e de desconsiderar vários aspectos relevantes do tema, essa tese não resiste a um exame acurado dos dados. Dessa perspectiva, um aspecto inicial e relevante a destacar é o contexto econômico no qual a pretensa substituição de fontes públicas e dirigidas, por privadas e de mercado, ocorreram. É sabido que vivemos, no biênio 2015/2016, uma recessão de grandes proporções, sendo sucedida desde então por uma estagnação. O aspecto mais dramático disso tudo é a trajetória do investimento. Assim, de um pico de 21,7% da taxa de investimento como porcentagem do PIB, em dezembro de 2013, caímos para 15,5% desde o início de 2017, um mergulho extraordinário, de 5,2 pontos percentuais de um PIB que reduziu-se em mais de 8%. Tudo isso num quadro de preços macroeconômicos muito peculiar: a taxa de juros real básica da economia caiu progressiva e initerruptamante, de um patamar elevadíssimo, de 7% a.a. ao longo de 2016, para 2,2% a.a. em junho de 2018. A taxa de câmbio do real contra o dólar sofreu uma valorização de cerca de 20% nos dois anos que vão do primeiro trimestre de 2016 ao primeiro de 2018.

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