Daniela Magalhães Prates e Luiz Fernando de Paula | Le Monde Diplomatique 

 

Após a Crise Financeira Global de 2018 (CFG), surgiu uma nova fase de integração dos países em desenvolvimento na globalização financeira assimétrica, na qual sua exposição aos fluxos voláteis e pró-cíclicos de portfólio e aos ciclos financeiros globais (com co-movimento das condições financeiras globais e domésticas em todos os países) aumentou. Enquanto as economias emergentes – países em desenvolvimento de renda relativamente alta que aderiram à globalização financeira nos anos 1990 – enfrentaram novos canais de transmissão desses ciclos e novas fontes de vulnerabilidade externa, alguns países em desenvolvimento de baixa e, principalmente, de renda média se integraram aos mercados internacionais de capitais, mediante a emissão de títulos soberanos e da abertura de seus mercados acionários pouco profundos para não residentes, tornando-se economias de mercado de fronteira (frontier-market economies). Tais economias começaram a enfrentar os vários desafios que a integração financeira internacional acarreta para a gestão macroeconômica, fragilidades financeiras e redução da autonomia de política monetária e fiscal.

Duas tendências principais caracterizam essa nova fase. Em primeiro lugar, a expansão dos balanços externos das economias emergentes ganhou impulso. No lado do passivo, os gestores de ativos dos países desenvolvidos aumentaram sua participação nos mercados domésticos de títulos soberanos. A elevação da dívida pública denominada em moeda local mitigou o descasamento da moeda no balanço patrimonial dos governos dessas economias, reduzindo a vulnerabilidade à volatilidade da taxa de câmbio, mas frequentemente criando descasamentos de maturidade (dado o menor prazo de vencimento dos títulos soberanos domésticos em comparação com os emitidos no mercado internacional) e deslocando o descasamento de moedas para os balanços patrimoniais dos credores que possuem ativos na moeda doméstica da economia emergente, mas têm obrigações na moeda de seu país. Como o episódio de saída de fluxos de portfólio de março de 2020 mostrou, no auge da crise de Covid-19, a fuga de capitais dos mercados domésticos de títulos soberanos desencadeou uma amplificação e retroalimentação mútua de depreciações de moeda e elevações bruscas nos spreads soberanos que contaminaram os custos de amortização da dívida em moeda estrangeira e os riscos de refinanciamento dos tomadores privados (Hofmann et al. 2020).

Em segundo lugar, os investidores globais têm confiado cada vez mais em fundos geridos de forma passiva ou com base em benchmarks – que seguem um índice de referência com pesos específicos para uma lista pré-definida de países e títulos (por exemplo, JP Morgan EMBI) – para investir em economias emergentes e de fronteira. Esses fundos são mais correlacionados entre países e reagem com maior intensidade e rapidez a mudanças nas condições monetárias e financeiras globais, reforçando o comportamento de rebanho (herd behavior) de investidores de portfólio (Miyajima e Shim, 2014; Raddatz et al., 2017). Consequentemente, a influência dos “fatores externos” (push factors) e o movimento comum dos fluxos de portfólio entre países em desenvolvimento aumentaram, tornando-os ainda mais expostos a mudanças inesperadas naquelas condições.

 

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