ARTIGO ACADÊMICO

Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica | Luiz Fernando Saraiva e Nelson Mendes Cantarino

O Dossiê Permanências e rupturas no processo de independência e da construção da Economia Nacional (c. 1780 / 1840), proposto para a Revista de História Econômica & História de Empresas, da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE) pelos professores Luiz Fernando Saraiva e Nelson Mendes Cantarino, tem o duplo propósito de apresentar as principais discussões sobre a História Econômica da Independência do Brasil com a produção recente de autores envolvidos na pesquisa histórica renovada em seus métodos, fontes e concepções teóricas.

Assim, o dossiê irá trazer a discussão da transformação do meio circulante brasileiro como um processo histórico a partir das necessidades de diversificação econômica, consolidando a presença da Coroa luso-brasileira na América e, posteriormente, o próprio Estado imperial brasileiro. Outro aspecto destacado são as relações comerciais, vistas nas perspectivas dos projetos de portos livres que envolveram o Brasil e Portugal desde o início do século XIX, como também das relações comerciais estabelecidas entre o Brasil e o Prata – ou os espaços que hoje se configuram como o “cone sul”, a saber, Argentina, Uruguai e Paraguai.

Outros aspectos tratados pela historiografia econômica contemporânea são as continuidades com as estruturas pré-existentes na colonização. Um exemplo são as práticas fiscais, agora adaptadas a expansão do comércio, da produção no mercado interno e na inserção dos produtos brasileiros no comércio mundial. Da mesma forma, as mudanças nas próprias concepções de trabalho e fábrica não ficaram somente restritas à Europa ou a uma porção pequena da América do Norte, mas também estão presentes na sociedade brasileira com iniciativas dignas de nota por suas especificidades. Por exemplo, o trabalho fabril – usualmente associado ao assalariamento – entre nós foi reinventado por uma sociedade escravista.

A convivência de uma economia de base agrária e escravista com um discurso modernizante demanda também o exame dos fundamentos tecnológicos de uma economia com baixo estímulo à inovação e ao desenvolvimento dos meios de produção, fatores característicos da economia colonial, sendo reproduzidos, consolidados e reforçados no contexto pós-independência.

A própria agricultura e as concepções sobre a terra foram alvos de importantes reflexões e atividades práticas, demonstrando que mesmo com a manutenção de uma economia fortemente agroexportadora, mudanças ocorreram em alguns aspectos da estrutura de posse da terra.

Um último aspecto inovador nos temas e na abordagem proposta nos artigos do dossiê é a compreensão de como o crédito se revelou essencial no estabelecimento de nossa independência frente às demais nações do mundo – via o empréstimo londrino que pagou as indenizações à Portugal – mas também internamente vinham contribuindo para a própria manutenção e expansão das diversas atividades econômicas que seriam a base da prosperidade da sociedade brasileira.

O dossiê também apresenta uma entrevista com a historiadora Wilma Peres Costa, autora de estudos centrais no debate em torno da independência e da consolidação do Estado brasileiro.

Acesse o dossiê no site: https://www.hehe.org.br/index.php/rabphe

Luiz Fernando Saraiva – Professor de História Econômica e História do Brasil Império do Instituto de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense. Ex-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE 2017/19) é o organizador geral da Coleção Novos Estudos de História Econômica lançados pela Eduff e Editora Hucitec em parceria com a ABPHE.

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Nelson Mendes Cantarino – Professor de História Econômica do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), membro da ABPHE, foi coordenador do Núcleo de História Econômica do Instituto de Economia da Unicamp (NIHE) e atualmente é editor associado do periódico Economia e Sociedade.

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